sexta-feira, 18 de julho de 2008

NOVOS OLHARES SOBRE A GRAVURA

A gravura experimenta na contemporaneidade um momento de grande efervescência, marcado por supostas tentativas de se compensar o tempo em que ela, por não usufruir de total reconhecimento de seu valor artístico, subsistia à margem do conjunto das artes consideradas maiores, como a pintura, a arquitetura e a escultura. Essas tentativas, exposições, mostras, pesquisas em Arte, realizadas tanto no Brasil quanto em outros países, não somente possuem sentido de compensação como confirmam a emancipação da gravura de sua condição de arte menor e, principalmente, sua autonomia enquanto obra de arte.
Na Bahia, a gravura também vive um momento significativo, onde os olhares voltam-se para aqueles que participaram incisivamente de sua introdução e desenvolvimento no Estado e para os novos artistas que, embora tendo uma produção mais recente, também estão contribuindo para sua consolidação. Certamente, quando os gravadores Poty Lazzarotto, Oswaldo Goeldi, Marcelo Grassman e Marina Caran realizaram as primeiras experiências de gravura na Bahia, em meados de 1940, não imaginou-se a repercussão que estas teriam no âmbito das artes visuais locais. A origem da gravura no contexto baiano coincidiu com o desenvolvimento das artes em direção a modernidade, o que permitiu com que estas se misturassem dentro de uma mesma narrativa histórica. Essa relação foi fundamental para que as artes visuais na Bahia fossem atravessadas simultaneamente por mudanças culturais, sociais e políticas. Na verdade, surgiu, nesse período, um novo modo de expressar a arte, fomentado por uma geração de artistas que não apenas desejavam mudanças, mas buscavam meios de concretizá-las.
A gravura soube integrar-se efetivamente aos ideais modernistas ao satisfazer duplamente suas aspirações: através da técnica, pois apresentava uma variedade de procedimentos técnicos específicos, os quais eram em si inovadores, e através de seu caráter artesanal, mecânico, multiplicador do objeto de arte.
A tentativa de firmação da gravura ganhou forças através de sua introdução, em 1953, no âmbito da Escola de Belas Artes. O curso, ministrado por Mario Cravo Júnior, contou com a participação de pessoas que posteriormente tornaram-se seus grandes propagadores, como Lênio Braga, Yêdamaria, José Maria, Calasans Neto, Juarez Paraíso, Raimundo Aguiar, José Maria de Souza, Sônia Castro, Leonardo Alencar, Emanuel Araújo, Edison da Luz, Newton Silva e Jaime Hora. Esses artistas além de somarem suas experiências práticas, alimentaram o sentimento de grupo, de realização coletiva, que é característico da gravura.
Não se deve esquecer a relevância do papel dos mestres gravadores para o estimulo à produção da gravura em Salvador, os quais, transmitindo os conhecimentos técnicos, criaram novas gerações de gravadores. Nessa perspectiva, merecem ser citados Mario Cravo Júnior, Henrique Oswald, Hansen Bahia, Juarez Paraíso personagens significativos da Escola Baiana de Gravura.
A gravura continuou atraindo novos olhares, novos apreciadores, novos adeptos, todos interessados em desvelar seu universo que, a princípio, mostra-se simples, mas que na verdade desdobra-se em diferentes procedimentos técnicos, em variadas temáticas, em novos suportes, caminhando para um enriquecimento ininterrupto da linguagem. Os que se entregarem à gravura, seja através da produção ou contemplação de obras, certamente se perguntarão: como uma arte tão expressiva pôde, durante tanto tempo, ter permanecido sob o signo de arte menor?

Virginia Muri - Julho de 2008
(Mestranda em Artes Visuais pela EBA-UFBA)

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